Quando a livraria francesa La Maison des Amis des Livres abriu as suas portas no dia 15 de novembro de 1915, no número 7 da rue de l'Odeon na margem esquerda do Sena, em Paris, a proprietária Adrienne Monnier, então com 23 anos, tinha o objetivo modesto de querer compartilhar seu amor pela literatura com o público.
Embora às vezes as mulheres atendessem em uma livraria da família, e as viúvas, ocasionalmente, assumissem os negócios editoriais da família, era raro que uma mulher francesa e independente se tornasse uma livreira. No entanto Adrienne, que havia trabalhado como professora e como secretária literária, adorava o mundo da literatura e estava determinada a fazer carreira vendendo livros. Com capital limitado, ela e sua amiga Suzanne Bonnierre abriram sua loja no momento em que havia necessidade real de uma loja de livros nova, já que muitos vendedores de livro tinham deixado seu trabalho para se juntarem as forças armadas.
La Maison foi a primeira biblioteca de empréstimo gratuito, na França, o que permitiu Monnier alcançar pessoas de todas as esferas e transformá-las em leitoras. A pequena livraria/biblioteca convidava os leitores a navegar pelos livros nas prateleiras encostadas nas paredes, sentar em uma das antigas cadeiras espalhadas ao redor de uma grande mesa de madeira, e estudar as muitas fotografias e desenhos que pendia de alto a baixo. Monnier tinha em mente uma loja que, como ela descreveu em seu livro de memórias:
"[Livrarias]que tendem a não atender a um público grande, mas sim um grupo que pode ser possível conhecer individualmente e servir perfeitamente."
Porque ela não tinha os meios financeiros para comprar uma grande quantidade de livros, Monnier decidiu especializar-se em obras modernas, que provou ser uma peça importante para seu sucesso. Ela compreendeu a necessidade de correr riscos por pegar um poema ou um romance contemporâneo, em vez de sucumbir ao conforto e segurança dos clássicos. Monnier tinha encontrado seu nicho e La Maison logo se tornou o centro da vanguarda da literatura francesa. Cada manhã, vestindo sua tradicional saia longa cinza que varria o chão com um colete sobre uma blusa branca engomada, Monnier encheria um estande de exposição ao ar livre com os livros de segunda mão.
Um escritor que frequentemente visitava La Maison, era Jules Romains, mais lembrado hoje por seus Hommes de Bonne Volonté (Homens de Boa Vontade), uma compilação de vinte e sete romances que exploram a civilização francesa no primeiro terço do século 20. Monnier o admirava muito, depois de ler tudo o que tinha escrito e ao longo de dois anos desenvolveram uma estreita amizade. Foi Romains, que inaugurou uma longa tradição no La Maison, as sessões de palestras ou leituras, mediante a apresentação de seu poema Europa em 1917.
Naquele mesmo ano, uma jovem americana chamada Sylvia Beach, que estava em Paris, prosseguindo seus estudos na literatura francesa contemporânea, depara com um anúncio da La Maison, que a atrai a Adrienne Monnier e a rue de l'Odeon. A rua de paralelepípedos provincial subia para o Théâtre de l'Odéon, com sua arquitetura neoclássica do século 18, lembrava Beach de casas coloniais de Princeton. Beach passou grande parte da sua juventude, em Princeton, Nova Jersey, onde seu pai, o reverendo Sylvester Woodbridge Beach levou a Primeira Igreja Presbiteriana. Durante os anos em Princeton, a família Beach visitou Paris, muitas vezes, chegando a se estabelecem por meses. Sylvia escreveu mais tarde em sua autobiografia: "Nós tínhamos uma verdadeira paixão pela França”.
Monnier cumprimentou sua nova visitante e as duas mulheres se viram envolvidas rapidamente em uma conversa apaixonada sobre o amor que nutriam cada uma pela literatura do país da outra. A idéia de estar cercada por livros e escritores todo o dia deve ter encantado Beach, quando ela olhou ao redor da livraria cinza e branco. Beach descreveu Monnier como:
"... uma escandinava, com seus cabelos lisos e penteados para trás O mais impressionante eram os olhos dela. Eles eram cinza-azulados e ligeiramente abaulados, e me lembravam os de William Blake."
Beach, pelo contrário, usava corte de cabelo ondulado abaixo das orelhas. Em Paris é uma Festa seu amigo Ernest Hemingway escreveu: "Seus olhos castanhos eram tão vivos como pequenos animais e tão alegres como meninas."
Com total apoio de Monnier e seu senso de negócios, Beach criou coragem de abrir sua própria livraria de literatura inglesa e americana em Paris. Sua primeira aventura começou no dia 19 de novembro de 1919, no número 8 da rue Dupuytren, perto de l'Ecole de Medecine, até que, dois anos depois, surgiu uma loja para alugar no número 12 da rue de l'Odeon, do outro lado da rua de La Maison. Em seguida, entre Beach e Monnier se desenvolveu uma estreita amizade, tinham se tornado amantes e passaram a viver juntas no número 18 da rue de l'Odeon, durante 15 anos.
Adrienne Monnier lançou também uma revista de língua francesa Le Navire d'Argent, em junho de 1925. Junto com as obras de escritores franceses que frequentavam sua livraria, Adrienne publicou uma tradução que ela e Sylvia tinham feito de The Love Song of J. Alfred Prufrock de T. S. Eliot, foi o primeiro poema importante escolhido para aparecer em francês. A Revista de Adrienne era de alcance internacional e publicava as listas de obras americanas em tradução, assim como consagrava os escritores americanos, incluindo Walt Whitman, William Carlos Williams, Ernest Hemingway e e. e. cummings. Após doze edições Adrienne teve de abandonar o Navire d'Argent, pois o esforço e o custo era mais do que ela poderia controlar. Através das duas livrarias e de suas publicações, Adrienne e Sylvia, fizeram muito para tornar a literatura americana conhecida na França.
Embora Beach tenha sido forçada a fechar sua loja durante a ocupação alemã, Monnier permaneceu aberta e continuou a fornecer livros e consolo aos leitores parisiense. Durante dez anos após a guerra Adrienne Monnier continuou seu trabalho como ensaísta, tradutora e livreira. Afetada por problemas de saúde, Monnier foi diagnosticado em setembro de 1954 com distúrbios auditivos e também sofria de delírios. Em 22 de maio de 1955, ela cometeu suicídio tomando uma overdose de pílulas para dormir.
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