Sobre os Anos Loucos

Provavelmente os Anos Loucos não teriam acontecido se não fossem os traumas causados pela Primeira Guerra Mundial (1914 -1918). O certo é que, com o fim dos horrores do conflito, a capital francesa foi palco de um despertar cultural incomparável com qualquer outra época daquele século. Uma nova geração questionava os valores de antes da guerra e sonhava com um mundo novo, proclamando que aquela fora “a guerra para acabar com todas as guerras”.

A utopia positivista do século XIX e seu credo dão lugar a um progressivo individualismo, desenfreado e extravagante. André Gide e Marcel Proust deram o tom dessa tendência literária que é agravada com o movimento e o crescimento do Dadaísmo com Tristan Tzara e seu manifesto. O surrealismo de André Breton não está longe. A Art Nouveau abundante, atingida pela guerra, dá lugar aos esboços preciosos de Art Deco.

É durante os "Loucos Anos Vinte" que a liberação sexual e a reivindicação das liberdades individuais ganham força. Em Paris essa excitação é mais sentida, porque a capital estava aberta as influências que chegavam de todos os lados e revolucionavam as atitudes e o estilo de vida. A maior das mudanças sociais é provavelmente a emancipação feminina sem precedentes. De fato, a maioria das mulheres foram deixadas sozinhas durante a guerra e isso mudou definitivamente seu lugar na sociedade.

A cidade de Paris nos anos de 1920 se torna a capital da arte e o lugar de encontro entre artistas e intelectuais da época. Assim, Gertrude Stein apresenta Picasso, Braque e Matisse a obras de Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. Em Paris foi publicada a primeira edição de Ulisses do irlandês James Joyce e muitos escritores de todo o mundo são atraídos por ela, com a certeza de que ali eles desenvolveriam seu talento e encontrariam inspiração para fazer parte dessa revolução intelectual e cultural.

A influência americana em Paris é considerável: o Charleston , o shimmy, o jazz, o cinema, cabarés e boates povoadas, depois da guerra, por soldados americanos e ingleses. Uma paixão repentina pelos Estados Unidos, seus valores, sua cultura, é caracteristica dessa Paris exuberante e efervescente. Este é o caso da famosa Revue Nègre, que se apresenta pela primeira vez em 1925, no Théâtre des Champs-Élysées e tem Josephine Baker como musa aclamada em toda Paris.

A cultura em massa também caracteriza essa época, deixando de ser exclusivamente orientada pela elite. A produção cultural, a prática de esportes, a moda mais acessível (graças a Coco Chanel) e a busca por entretenimento já eram desfrutadas por um público maior, principalmente de classe média, graças aos avanços tecnológicos e a maior participação dos cidadãos nas atividades políticas, sociais e sindicais.

Os Anos Loucos são enfim marcados por uma necessidade de aproveitar ao máximo a vida, pois, mais do que nunca, se davam conta de como o futuro era incerto.