A Grande Guerra (1914 – 1918)

A França sempre esteve envolvida em muitas batalhas e guerras durante toda sua história e não seria diferente na I Guerra Mundial. Nessa época a França alimentava um forte sentimento de revanchismo em relação à Alemanha, devido a humilhante derrota sofrida na Guerra Franco-Prussiana (1870 – 1871), e desejava recuperar a região da Alsácia-Lorena, perdida para os alemães naquele conflito. Devido a isso, depois de unificar a Alemanha em torno do Reino da Prússia, dando origem ao II Reich (Império Alemão, 1871-1918), o chanceler Bismarck procurou tecer uma Política de Alianças com as demais potências européias, a fim de manter a França isolada e neutralizar o revanchismo francês. Essa política teve sucesso, mas foi abandonada após 1890, quando Bismarck se afastou da vida política. O novo imperador, Guilherme II, adotou uma política militarista cujo resultado foi a formação de dois blocos opostos:

Tríplice Aliança: Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. Esta uniu-se à Alemanha em represália à França, que frustrara a pretensão italiana de conquistar a Tunísia.

Tríplice Entente: Inglaterra (ou melhor, Grã-Bretanha), França e Rússia. Esse nome vem de Entente Cordiale (“Entendimento Cordial”) – forma como o governo francês definiu sua aproximação com a Inglaterra, de quem a França era adversária tradicional.

O período anterior a Grande Guerra ficou conhecido pelo nome de Paz Armada, pois as grandes potências, convencidas de que o conflito era inevitável e até mesmo desejando-o, aceleraram seus preparativos bélicos. Por duas vezes, em 1905 e 1911, a Alemanha provocou a França a respeito do Marrocos, mas as crises foram contornadas.

Em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Fernando de Habsburgo, herdeiro do trono austro-húngaro, e sua esposa, visitavam Sarajevo, capital da Bósnia, quando foram assassinados por um jovem bósnio cristão ortodoxo partidário da união com a Sérvia. A Áustria-Hungria, alegando envolvimento do governo sérvio no crime, apresentou uma série de exigências que foram rejeitadas pela Sérvia.

Em 28 de julho, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia. No dia seguinte, a Rússia pôs suas tropas em estado de prontidão, e a Alemanha fez o mesmo em 30 de julho. Na madrugada de 1º de agosto, a Alemanha declarou guerra à Rússia, sendo imitada pelo governo austro-húngaro. França e Grã-Bretanha, surpreendidas pela rapidez dos acontecimentos, não se moveram. Mas a Alemanha, cujos planos de campanha estavam prontos desde 1911, declarou guerra à França em 3 de agosto. Na madrugada de 4 de agosto, as tropas alemãs invadiram a Bélgica – que era neutra – para surpreender os franceses com um ataque vindo de direção inesperada. A Bélgica, militarmente fraca, não conseguiu conter os invasores, os quais deveriam alcançar rapidamente o Canal da Mancha. Alarmado com essa perspectiva, o governo britânico declarou guerra à Alemanha na noite de 4 de agosto.

Em uma semana, o que deveria ser mais um conflito balcânico transformara-se em uma guerra européia. A Itália somente entrou na luta em 1915; mas fê-lo contra a Alemanha e Áustria-Hungria, porque Grã-Bretanha e França lhe prometeram – e depois não cumpriram – que os italianos ganhariam algumas colônias alemãs na África.

Durante a I Guerra Mundial, os blocos em conflito mudaram de denominação, passando a ser conhecidos como:

Impérios Centrais: Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária.

Aliados: França, Grã-Bretanha, Rússia, Sérvia, Bélgica, Japão, Itália, Romênia, EUA, etc.

O plano alemão previa um poderoso ataque sobre o Ocidente, passando pelo território belga atingindo o coração político e econômico da França. Após feri-la mortalmente, os alemães carregariam suas energias contra os russos. Contavam para tanto com a utilização de seu excelente parque ferroviário, sua tecnologia e seus recursos humanos superiores aos dos franceses (a capacidade de mobilização dos alemães era de 9.750.000 homens enquanto a dos franceses era de 5.940.00).

Os planos militares franceses sofreram por sua vez uma radical transformação. Durante muito tempo esperavam adotar uma guerra defensiva baseada em contra-ataques dissuasórios. Mas, com ascensão do Gen Joffre à chefia do Estado-Maior em 1912, adotou-se a teoria da "Offensive à Outrance" influenciada pelo pensamento do filósofo Henri Bergson divulgador do Élan Vitale. A França deveria recuperar sua vocação histórica que era a ofensiva, determinada pelos exércitos republicanos durante a Revolução Francesa e por Napoleão.

Previa-se um forte ataque sobre a região das Ardenas e sobre a Lorena tendo como objetivo atingir o âmago da produção industrial alemã - a região da Renania, ao mesmo tempo em que recuperaria os territórios da Alsácia-Lorena. O Plano XVII, segundo Liddell Hart, baseou-se na negação da experiência histórica e no bom-senso, por avaliar equivocadamente o poderio alemão e jogar suas esperanças numa ofensiva direta sobre um inimigo bem fortificado.

A Inglaterra por sua vez, teria uma participação mais modesta. Confiante no poderio de sua esquadra enviaria um corpo expedicionário para auxiliar uma das alas do exército francês. Sua superioridade naval deixava-a tranquila contra a possibilidade de uma invasão ao mesmo tempo em que poderia exercer um bloqueio sobre os fornecimentos de matérias-primas necessárias à Alemanha.

Por último, os russos confiavam no seu enorme e quase que inesgotável potencial humano. Ciente de sua inferioridade técnica e industrial para enfrentar o poderio alemão, contavam superar a qualidade pela quantidade, lançando sobre a Prússia Oriental verdadeiras marés humanas que, se não derrotassem os teutônicos, dariam possibilidade para que seus aliados ocidentais o fizessem. As ambições russas se concentrariam na região balcânica e na tomada de Constantinopla, velho sonho imperial que lhe daria acesso direto ao Mar Mediterrâneo pois teria o controle dos estreitos (Bósforo e Darnelos).

A guerra no fronte ocidental - 1914-1917

 A guerra de movimento.

Na madrugada do dia 4 de agosto de 1914, cinco poderosos e bem equipados exércitos alemães, totalizando um milhão e meio de soldados, penetraram através do território belga, considerado até então neutro. A poderosa ala direita do exército alemão tinha a função de realizar uma ampla manobra de envolvimento, levando de roldão os exércitos franceses estacionados na fronteira franco-belga.

Mesmo sendo obrigado a alterar o plano original, o Gen. Von Molke então chefe do Estado-Maior alemão, via que suas tropas estavam obtendo os resultados esperados. Sua superioridade inicial, porém, começou a ser ameaçada pelo engajamento do exército belga e pela chegada do corpo expedicionário britânico, rapidamente desembarcado na região.

Os alemães, que contavam com 80 divisões, teriam que enfrentar 104 das do inimigo. Depois de frustrarem as tentativas ofensivas francesas em Mulhouse e na Lorena, ocuparam toda a região que vai das proximidades de Paris a Verdun. Caíram sob seu controle 80% das minas de carvão, quase todos os recursos siderúrgicos e as grandes fábricas do Noroeste francês.

Um grande erro de comunicações entre as tropas alemãs permitiu que os franceses detivessem o ataque sobre sua capital. Deslocados rapidamente pelas vias férreas, as tropas francesas contra-atacaram na região do Rio Marne, entre os dia 6 e 9 de setembro. A Batalha do Marne teve duplo significado, não só salvou a França de uma derrota como alterou as regras da guerra. Todos os Altos Comandos deram-se conta da impossibilidade de se manter a guerra de movimento devido às extraordinárias baixas.

Da guerra de movimento à guerra de trincheiras.

Bem poucos generais e políticos haviam se dado conta do mortífero desenvolvimento das armas modernas. Em 1898, um banqueiro de Varsóvia, Ivan Bloch, já havia alertado para os terríveis efeitos que as armas de fogo cada vez mais poderosas fariam sobre a infantaria, obrigando esta a se refugiar em trincheiras ou então estaria sujeita a terríveis massacres. Contemplava a guerra do futuro como enormes sítios em que a fome atuaria como juiz decisivo.

O alerta pouco efeito teve sobre os militares e estadistas no período que antecedeu 1914. Pelo contrário, a imensa maioria dos especialistas calculava que o conflito duraria entre 4 a 6 meses no máximo, sendo ridicularizado aquele que predizia durar um ano ou mais.

Quando a guerra teve seu início, quase todos os generais estavam apegados as doutrinas novecentistas não computando em seus cálculos os terríveis efeitos da metralhadora e da artilharia pesada. Esses dois instrumentos tornaram inviáveis os deslocamentos desprotegidos dos bombardeios de gás de mostarda, empregados pela primeira vez pelos alemães em 22 de abril de 1915, assim como do lança-chamas, da aviação e do tanque de guerra (utilizado pelos ingleses como arma tática de apoio à infantaria).

O recuo alemão para regiões mais afastadas de Paris combinou com o surgimento das trincheiras - "os soldados se enterraram para poder sobreviver". No inverno de 1914/1915, 760 quilômetros delas haviam sido escavados, partindo do canal da mancha até a fronteira suíça. Em alguns pontos, distanciavam-se apenas de 200 a 300 metros uma da outra, em outros chegavam a quatorze km. Durante os quatro anos seguintes, milhões de homens iriam viver como feras atormentadas pela fome, frio e pelo terror dos bombardeios. Em todas as batalhas que se sucederam, as linhas não se alteraram mais do que 18 quilômetros. Nunca em toda a história militar da humanidade tantos pereceram por tão pouco.

A guerra de desgaste e o bloqueio naval.

No ano de 1915, franceses e ingleses tentam inutilmente romper as linhas alemãs. A guerra havia chegado a um impasse, pois ambos os lados eram suficientemente fortes para não serem derrotados. Devido às características da guerra de trincheiras, o elemento tático que um ataque de surpresa proporciona, tornou-se inoperante. A necessidade de concentrar fogo de artilharia durante dias inteiros para poder abalar as primeiras linhas do inimigo, alertava este da iminência do ataque. Deslocava então suas forças para a região ameaçada e terminava por deter a ofensiva. No primeiro semestre de 1916 (21 de fevereiro/21 de julho) foi a vez dos alemães tentarem romper com as fortificações francesas em torno de Verdun.

Os franceses conseguiram deter o poderoso ataque. Em pouco mais de cinco meses, os alemães tiveram baixas de 336 mil soldados enquanto seus inimigos, 362 mil. Foi a mais sangrenta batalha da Grande Guerra, tornando célebre a determinação da infantaria gaulesa

"Ne passeron pas!"
(Eles não passarão!)

Os aliados, depois do fracasso alemão em Verdun, tentam por sua vez afastá-los de suas posições na região do Somme. De 24 de junho a 26 de novembro de 1916, os anglo-franceses tentam romper as linhas alemãs e um novo fracasso se repete, com perdas assombrosas.

Dada a impossibilidade de dobrar o inimigo por batalhas terrestres, os ingleses trataram de bloquear as ligações marítimas dos alemães. Esses decretam então a guerra submarina. Em maio de 1915, afundam o transatlântico "Lusitânia" onde perecem 120 cidadãos americanos, fazendo com que a opinião pública nos Estados Unidos se volte contra a Alemanha. No ano de 1916, intensificam a guerra comercial ordenando o afundamento sumário inclusive de navios neutros que se aproximem do litoral britânico. Essa medida terminará por levar o Presidente W. Wilson a declarar guerra à Alemanha em 6 de abril de 1917, e à Austria-Hungria em 7 de dezembro do mesmo ano.

A guerra no fronte oriental.

Aproveitando-se da intenção dos alemães em atacarem o Ocidente, os russos, antes que a mobilização total estivesse completada, iniciaram uma poderosa ofensiva sobre a Prússia Oriental. Depois de obterem uma vitória em Gubinnen penetraram na direção dos Lagos Masurianos e da cidade de Tannemberg. A rapidez da ofensiva, obrigou os alemães a retiraram tropas do fronte francês e rapidamente recambiá-las para a Prússia.

Refeitos do impacto das primeiras derrotas, os alemães passaram para a contra-ofensiva. O IIº Exército Russo foi cercado e batido em Tannemberg e o Iº Exército Russo foi destroçado na Batalha dos Lagos Masurianos.

A oportunidade da Rússia vencer a guerra no Oriente foi definitivamente perdida. No ano seguinte, em 1915, os exércitos austro-alemães ocupam a Polônia Ocidental e Varsóvia cai em 5 de agosto. As sucessivas e desastrosas derrotas do Exército russo terminam por levar o Czar Nicolau II a assumir o comando geral do Exército. Mas a crise era muito mais ampla do que a simples troca de comandos ineficientes ou incompetentes, era toda a estrutura político-administrativa e industrial do país que começou a ruir.

Num esforço inaudito, os russos tentam uma grande ofensiva na região da Galicia, na qual depositaram imensas confianças. Depois de destroçar alguns exércitos austríacos a ofensiva emperra. Não havia apoio logístico, nem reservas para explorar as vantagens iniciais. O fracasso dá início a uma corrosiva desmoralização dos soldados russos. Em 1917, os austro-alemães empurram vigorosamente o exército russo para suas fronteiras naturais.

Os Estados bálticos caem sob seu controle, colocando a capital do país, Petrogrado, ao alcance das tropas alemãs. Em março de 1917, depois de grandes manifestações de massa acompanhadas de ondas de greve, o regime de Nicolau II é deposto. O Governo Provisório, liderado por Kerenski ainda tenta infrutíferas investidas contra os alemães, até ser finalmente deposto pelo golpe de estado bolchevique.


1918: Cronologia do término do conflito

A chegada das primeiras tropas norte-americanas à França se deu em fevereiro de 1918.

Em março o governo bolchevique (comunista) russo, que fora instaurado em novembro de 1917, assina o Tratado de Brest-Litovsk com a Alemanha, retirando a Rússia da guerra. No mesmo mês, os alemães iniciam uma última ofensiva na frente ocidental, mas mais uma vez não conseguem tomar Paris.

Em Julho aconteceu a contra-ofensiva aliada na França. Os alemães começam a bater em retirada.

A Bulgária se rendeu em setembro e a Turqui em Outubro.

O Império Austro-Húngaro desintegra-se no dia 3 de novembro. Áustria e Hungria assinam armistícios (acordos de cessar-fogo) separados.

No dia 9, irrompe uma revolução republicana na Alemanha; fuga do Kaiser Guilherme II. No dia 11, o novo governo alemão assina um armistício com os Aliados.

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